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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Obras lidas 2010

Relação de obras lidas em 2010.
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101º "O jardim dos caminhos que se bifurcam", de Jorge Luís Borges
100º "Admirável mundo novo", de Aldous Huxley
99º "Alice no país das maravilhas", de Lewis Carrol
98º "Cartas Persas", de Montesquieu
97º Aniversário do Aleph: Filme "O violino vermelho"
96º "Angústia", de Graciliano Ramos 95º “Cartas de amor”, de Mariana Alcoforado

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Retrato do artista quando jovem

Retrato do Artista Quando Jovem é o primeiro romance de James Joyce, publicado em 1916. Narra as experiências da infância e adolescência de Stephen Dedalus, o alter ego do autor, no caso, um rito de passagem para a idade adulta, que inclui deixar para trás a família, os amigos e a Irlanda. Na obra, destaca-se o uso sistemático do monólogo interior, o que convida o leitor, desde o primeiro capítulo, a entrar na mente de Stephen Dedalus para acompanhar seus pensamentos, reações e os processos psíquicos de sua consciência. Nessa perspectiva, apresenta-se um romance de formação, ou seja, expõe de forma pormenorizada o processo de desenvolvimento físico, psicológico, social e estético do personagem Dedalus. Como uma “autobiografia”, o romance vai das memórias à (re) criação da trajetória de um jovem que deseja profundamente ser um artista, mas que, primeiro, precisa vencer as forças que reprimem sua imaginação – as convenções e herança da Igreja, da escola e da sociedade. Portanto, trata-se de uma narrativa que reflete também a profunda relação de amor e ódio que o autor manteve durante toda a vida com sua terra natal, Dublin, e com a cultura que o formou. Por isso mesmo, a narrativa sinaliza também os primeiros passos de James Joyce em direção ao universo de sua grande obra, Ulisses, publicada em 1922. Vale lembrar que o nome Dedalus remete, tal como na referida obra, à mitologia e à tradição da Antiguidade Clássica, que é outro ponto crucial para a leitura do escritor irlandês. Sendo assim, para se começar a conhecer a escrita joyceana, nada melhor do que iniciá-la com o retrato do próprio do artista.

O jardim dos caminhos que se bifurcam



Jorge Luís Borges, o mais aclamado escritor da literatura argentina, nasceu a 24 de agosto de 1899, em Buenos Aires, e morreu a 14 de junho de 1986, em Genebra. Com obras que vão desde A história universal da infâmia, passando por Ficções e por Aleph, até O livro de areia, só pra citar algumas de suas grandes obras, em Borges nunca se sabe onde termina o real e começa a fantasia, ou onde acaba esta e inicia aquele. Possivelmente o escritor argentino foi um sonho que queria nos sonhar ou sonhar toda humanidade e suas inúmeras memórias e tradições, enfim, o caleidoscópio que se abriu ao metafísico para explorar inesgotavelmente uma das mais labirínticas experiências humanas: a arte de narrar a si mesma. Portanto, o que não falta em Borges é o infinito... Como parte deste, o próximo conto a ser lido pelo grupo, "O jardim dos caminhos que se bifurcam", encerra a primeira parte de sua obra máxima Ficções; pode-se dizer, é um conto policial, cheio de enigmas, mistérios e lacunas, bifurcando, assim, em várias possibilidades de leitura... Querem mais? Leiam-no!

Cartas Persas



Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu. Escritor e filósofo francês, e célebre pela sua teoria acerca da separação dos poderes, Montesquieu nasceu no Palacete de la Brède, perto de Bordéus, em1689, e morreu em Paris, em 1755. Eis, enfim, mais uma grande oportunidade de lermos um filósofo iluminista, que, aliás, já foi lido anteriormente através da obra O gosto. Oxalá possamos aproveitar melhor a agudeza de Montesquieu, que vai de O Espírito das Leis às Cartas Persas, do próximo mês. Em meio a uma intensa vida intelectual e política, como se poderá ler em sua biografia, o espirituoso e irreverente filósofo apresenta no livro que vamos ler um fundo bem sério. Mais do que o teor erótico que se percebe, por exemplo, na carta 7, Montesquieu conhece a realidade ético-política de seu tempo. Escrita em 1721, em forma de romance epistolar, Cartas Persas reflete também a influência da estética barroca, apontando o quanto o filósofo serviu-se dessa estética para denunciar a realidade social e demonstrar, através da literatura, "os erros, desgraças, infâmia, angústia, opressões e violências (...) e para despertar em nossa imaginação o desejo de mudança”. E tudo isto ele faz relativizando os valores de uma civilização pela comparação com os de outra muito diferente, no caso, com os persas. Uma ótima leitura, na qual o filósofo francês faz do gênero carta uma reflexão acerca da cultura européia, e com aquela ironia mordaz, bem característica dos iluministas franceses.

domingo, 9 de maio de 2010

Admirável Mundo Novo

Para a próxima leitura de junho, teremos o famoso Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley que, em 1931, publicou nada menos que um texto futurista. Embora trazendo uma reflexão que nos dias de hoje possa parecer já superada, não há como negar que o livro traz uma questão importante: o cientificamente possível é eticamente viável? O Admirável Mundo Novo relata uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não há vontade livre, que é abolida pelo condicionamento, e a servidão é aceitável devido a doses regulares de "felicidade química" e a ideologias que são ministradas em cursos durante o sono. Obervando o contexto atual, poderíamos então imaginar um futuro parecido, em meio à manipulação midiática e às custas de "admiráveis conquistas" da ciência. Será o excesso preconizado por Huxley o pesadelo virtual de Matrix, e a fábula cinematográfica atual?
Por Paulo Machado

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Alice no país das maravilhas



Alice no País das Maravilhas é a obra mais conhecida do professor de matemática inglês Charles Lutwidge Dodgson, sob o pseudônimo de Lewis Carroll, que a publicou em 1865. É uma das mais célebres obras da literatura universal, cujo teor remete a perspectivas de reflexão que vão da antropologia à psicanálise. E todo esse teor vivido por uma menina chamada Alice que, após cair na toca de um coelho, é transportada para um lugar fantástico, povoado por criaturas antropomórficas. A obra também está repleta de alusões satíricas dirigidas tanto aos amigos como aos inimigos de Carrol, além de paródias e poemas populares infantis ensinados na Inglaterra do século XIX. Portanto, é uma obra de interpretação mais diversa, diferentemente do que pensa o público em geral ao concebê-la como um livro mais dado ao entretenimento, já que é também uma referência ao mundo infanto-juvenil. De qualquer forma, é uma grande obra que vale a pena ser lida com bastante atenção, e que, aliás, estará nos cinemas em abril de 2010.

Por Paulo Machado

domingo, 17 de janeiro de 2010

Angústia - Graciliano Ramos



"Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. Arte é sangue, é carne. Além disso, não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós mesmos, só podemos expor o que somos" (Carta à irmã Marilia Ramos, aprendiz de ficcionista, em 23.11.49)
Lendo o livro Angústia (1935), é possível lembrar-se de Albert Camus, ao menos para quem já leu, por exemplo, O estrangeiro... Marcado por um teor existencialista e memorialístico, a trajetória do personagem sangra como uma ferida que não se fecha. E como não há como conter o sangramento, as imagens patéticas ou trágicas que o assaltam nos sonhos e devaneios diários refletem uma vida que é um verdadeiro exílio econômico e social.
Recordando constantemente o passado da família, principalmente o avô e o pai, o que lhe chegam são cenas e imagens de um pesadelo sem fim. Em meio à incômoda e volúvel relação com Marina, o personagem Luís vive a extrema angústia diante de uma vida pobre, violenta e resultante da frágil economia do sertão das Alagoas, e que o narrador chama "a minha raça vagabunda e queimada pela seca". Assim, nesse árido ambiente, um crime ou uma ação boa dá tudo no mesmo. Afinal, ele já nem sabe o que é bom e o que é ruim, tão embotado vive, como afirma em certa passagem da narrativa. Eis a condição do modesto e inquieto funcionário público Luís é também uma parte do que viveu o escritor, entre a intensa atividade política e a perseguição que daí adveio, e que culminou na grande obra Memórias do Cárcere, publicada após sua morte. Enfim, uma boa leitura e bem ao estilo de Graciliano Ramos: uma dose de história, uma linguagem enxuta, imagética e existencial.
Por Paulo Machado

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cartas de Amor

“Ignoro porque te escrevo [...]”
Publicadas em sua tradução francesa em 1669, as Cartas de Amor de Mariana Alcoforado são, supostamente, de uma freira portuguesa que se dirige a um oficial francês. Aliás, eis aí uma questão a mais: ser ou não ser? As cartas são de fato a expressão sentimental de uma freira?
Em meio a divagações e controvérsias, até mesmo a visão pouco ortodoxa de Rousseau, ao menos para os dias de hoje, ao dizer que “uma mulher não seria apta a escrever tão bem assim”, o que importa é a experiência estética que agrada a “gregos e troianos”.
E prova disso é que o Museu de Beja – Portugal, ainda conserva a grande janela gradeada, mais conhecida como a Janela de Mértola, das Portas de Mértola ou de Mariana, verdadeiro ex-libris do convento, através da qual a religiosa viu tantas vezes passar o oficial De Chamilly. E que a marcou tão profundamente com o seu olhar, quiçá, pelo ardor da paixão expresso nas cartas, marcou-a também no corpo inteiro...
Assim, nas cartas transparece o amor incondicional e exacerbado da jovem Mariana, que diz sofrer horrores com a distância do amado. Aos poucos as cartas, em número de cinco, vão apontando o fim de qualquer esperança numa união, já que não havia mais nenhuma correspondência do amado... Enfim, toda paixão da freira é traduzida numa linguagem densa e intensa, típica do estilo barroco, como já sugere a frase "ignoro porque te escrevo"... E que bem poderia transformá-la numa autora romântica...
Mas, se “o amor é melhor experimentá-lo do que julgá-lo”, como aponta Camões no Canto X d’ Os Lusíadas, as cartas, inclusive as de Mariana, sugerem mesmo que a ficção é melhor saboreá-la do que julgá-la.
Por Paulo Machado

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Obras lidas 2009

Relação de obras lidas 2009.
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94º "O carteiro e o poeta", de Antonio Skármeta
93º “Totem e Tabu” de Sigmund Freud
92º “Cultura - Um conceito antropológico" de Roque de Barros Laraia
91º Encontro temático: “O tempo”
90º “Apologia de Sócrates” de Platão
89º “Macunaíma” de Mário de Andrade
88º “Vidas secas” de Graciliano Ramos
87º “Diário de um sedutor” de Sören Kierkegaard
86º Encontro temático: “O erotismo”
85º “O corvo” de Edgard Allan Poe
84º Dinâmica: Produção dos integrantes
83º “A terceira margem do rio” de João Guimarães Rosa

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ou "Ardiente Paciencia" - Antonio Skármeta



"(...) Mas também queria pedir uma coisa, Mario, que só você pode cumprir. Todos os meus amigos ou não saberiam o que fazer ou pensariam que sou um velho caduco e ridículo. Quero que você vá com este gravador passeando pela Ilha Negra e grave todos os sons e ruídos que vá encontrando. Preciso desesperadamente de algo, nem que seja o fantasma da minha casa. A minha saúde não anda nada bem. Sinto falta do mar. Sinto falta dos pássaros. Mande para mim os sons da minha casa. Entre no jardim e faça soar os sinos. Primeiro grave esse repicar suave dos sininhos pequenos quando o vento bate neles, e depois puxe o cordão do sino maior cinco, seis vezes. Sinos, meus sinos! Não há nada que soe tão bem como a palavra sino se a pendurarem num campanário junto ao mar. E depois vá até as pedras e grave a arrebentação das ondas. E se ouvir o silêncio das estrelas siderais, grave (...)”

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O carteiro e o poeta

O título do próximo mês a ser lido pelo Aleph me agradou bastante, aliás, eu já estava sentindo a falta de um texto realmente literário... E o que dizer em mais este breve texto para o blog? De início, o enredo do livro de Skármeta é muito sugestivo à literatura, não só pela relação emblemática entre um carteiro e um poeta, mas por aquilo a que remetem esses dois signos: de um lado o gênero carta que é, por natureza, intensamente memorialístico, e de outro, a inferência do poeta que é, por excelência, “um grande criador de memórias”... Mas vamos ao que mais interessa.
O livro, que virou filme tendo uma boa recepção no cinema na última metade da década passada, certamente é mais intenso. No entanto, mais do que dizer simplesmente que o livro é muito melhor que o filme, vale destacar o engenho do escritor em produzir um texto que pudesse ser simples, agradável e bem desdobrado em outra linguagem estética. Se observarmos com atenção, veremos que a textualidade favorece esse aspecto, o que é facilmente explicado dada a relação do escritor com as artes visuais. Além de sua formação em Letras e Filosofia, tendo estudado em Colúmbia, EUA, ele já produziu filmes de cunho político e foi diretor de teatro. E ainda traz na bagagem mais de uma dezena de livros já publicados.
Eu seria suspeito em optar pelo livro, mas algo que muitos esquecem é que o cinema não é literatura, embora possa refletir esse teor, e a literatura não é cinema, apesar de poder ser, também, suscetível à sétima arte. Um não tem que provar uma verdade para o outro. Mesmo assim, os dois podem ser ótimas leituras, e que jamais devem se excluir. Claro, às vezes o filme decepciona bastante os amantes do texto, ou o contrário também, por que não? Mas, neste caso, apesar das variantes que há entre o livro e o filme, cada qual traz um “olhar próprio”. Além disso, a intertextualidade nas duas experiências estende o olhar de quem lê e assiste. Afinal, a diferença em relação, por exemplo, aos lugares onde se desenrola a narrativa – Isla Negra, no livro, e a Itália mediterrânea no filme – não altera o enredo do livro, pois, se na obra escrita o poeta Neruda tem que ir a Paris, por ter sido nomeado embaixador pelo presidente eleito, Salvador Allende, no filme ele tem que retornar ao Chile por ter sido convidado a participar da campanha presidencial. São deslocamentos que não ferem a essência da narrativa, ao menos naquilo que envolve o afeto e a nostalgia entre o poeta e o carteiro Mário Jiménez, e muito menos as doces recordações de uma grande amizade. Talvez um “desconcerto” entre o terno e singelo filme e o apelo ardente do livro, mas, aí, o título anterior justifica e parece dar conta muito bem do que ficou na literatura e depois no cinema: Ardiente Paciencia...
O que mais posso dizer desta leitura? O cenário e o enredo me vêm, particularmente, como um deleite, seja La Bella Isla Negra ou Una piaggia in Italia. A sensibilidade do escritor vale, sem dúvida, a leitura do livro: uma história de respeito mútuo e de amor, que é atravessada pelo autoritarismo dos governantes, mas também profundamente tocada pela beleza das pequenas coisas, tão cantada nos versos de Neruda.
No mais, o carteiro Jiménez, com seu vagar, educação e simplicidade, nem por isso deixa de exaltar apaixonadamente as duas pessoas que mudariam sua vida: o poeta e sua musa, cujo nome, muy sugestivamente, é Beatriz... Querem mais? Não é por menos que, no filme, saudoso de sua ilha, Neruda chega a pedir a seu amigo uma gravação com os sons do lugar (ver a capa do livro), tarefa que Mário cumpre com louvor...
Enfim, um cenário político ao fundo, uma aldeia de pescadores, o poeta debruçado sobre cartas e cartas, e, por fim, o frescor e a beleza caliente de uma tal Beatriz... Bom, tudo isso já traz, pra mim, razões mais do que extemporâneas...

Por Paulo Machado

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Totem e Tabu

Caros Alephianos, pensando um pouco sobre a próxima obra a ser lida, lembrei-me da famosa fala: "Freud explica", porém, já se perguntaram o quê ele explica? Ou até onde ele explica? Enfim, ainda são poucos os que se atentam para o quê o psicanalista explica ou tenta... Aliás, o bom leitor da nossa "estropiada língua" não pode desconsiderar que o ignorado verbo explicar exige um complemento, e não apenas do ponto de vista linguístico, mas também epistemológico, ou seja, ele "impõe" a tarefa de se saber que quem explica, explica algo, e que explicar implica uma explicação. E mais do que um possível trocadilho, não se pode perder de vista que conhecer exige comprometimento, e não jargões ao vento.... Seria pedir demais, não é? Mas, curiosamente, a busca obstinada de Édipo, que rendeu ao pensador austríaco um dos grandes "motivos" para erguer sua obra, não parece ser nem de longe a busca de nosso tempo. Claro, não que se deva furar os olhos depois de encontrar o objeto do saber, ou "a freudiana paixão" de todo homem... mas, quem quer uma explicação "não pode morrer numa frase sem complemento", concordam? Vejamos, então, ainda que brevemente, que o arqueólogo do inconsciente deixou marcas profundas na história da humanidade, não porque conseguiu explicar tanto assim, mas, talvez, pelo contrário.... Nesse sentido, a raiz da pesquisa do Sr. Sigismund Schlomo Freud está em pensar a busca humana pela própria origem, porém, colocando o mito, inclusive o de Édipo, numa tremenda encruzilhada psíquica, mas, que daria, segundo ele, origem à estruturação da subjetividade (do sujeito), enquanto Totem e Tabu explicariam a gênese da civilização (cultura), questão recente do Aleph, não foi? Bom, após esta singela explicação, que tal sabermos mais sobre o quê explica o pai da Psicanálise? Pois, se "Freud explica", temos que saber o quê, senão "Freud não explica, fode..."
Por Paulo Machado

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"O valor do amanhã" de Eduardo Giannetti

Se é fato que em nenhum dos encontros se pretendeu "esgotar o tema" ou a obra em questão, não por isso deixa de ser válido retomarmos algumas questões e acréscimos do(s) encontro(s) passado(s) como no recente tema do último encontro "O tempo".
Dos aspectos que mais senti falta no encontro, certamente está a relação do mesmo com a ECONOMIA, da relação que o homem tem com as coisas de ordem financeira e material que lhe garantem a existência física e onde o mesmo tempo, é crucial, para com as importantes decisões da vida. As mesmas em suas expressões e desdobramentos que decidem a presença do sujeito humano no mundo, onde todos os elementos estão diretamente relacionados com o tempo como os juros, a poupança, o quando e o quanto investir ou poupar em cada uma das fases da vida.
E sobre isso a obra de Eduardo Giannetti (1957) é excelente: "O valor do amanhã" (2005, Cia das Letras) e que se faltou no encontro, não irá deixar de comparecer aqui como sugestão de leitura e enriquecimento extra, oportuno a reflexão sobre o tema em mais um desdobramento.
Confira abaixo a sinopse e boa leitura.

"Os juros fazem parte da vida de todos os homens - aparecem tanto nas discussões sobre o crescimento econômico da nação como em aspectos miúdos do dia-a-dia. O princípio econômico é simples - o devedor antecipa um benefício para desfrute imediato e se compromete a pagar por isso mais tarde, e quem empresta cede algo de que dispõe agora e espera receber um montante superior no final da transação. Em 'O valor do amanhã', Eduardo Giannetti defende que esse aspecto dos juros é apenas parte de um fenômeno natural maior, tão comum quanto a força da gravidade e a fotossíntese. Enxergar o fenômeno unicamente do ponto de vista comercial obscureceria sua enorme variedade e abrangência. A questão dos juros 'não se restringe ao mundo das finanças, atinge as mais diversas e surpreendentes esferas da vida prática, social e espiritual, a começar pelo processo de envelhecimento a que nossos corpos estão inescapavelmente sujeitos', diz Giannetti. Desde o momento em que aprendeu a planejar sua vida, o homem antecipa e projeta seus desígnios usando esta prática. A noção de juros já 'está inscrita no metabolismo dos seres vivos e permeia boa parte do seu repertório comportamental'. A prática de dieta, a dedicação aos estudos e os exercícios físicos para melhorar a saúde são situações da vida nas quais se manifesta a realidade dos juros. É desta maneira original que Giannetti analisa o tema. Ao extrapolar os limites puramente financeiros do fenômeno, o autor mostra que questões concretas - como a alta taxa de juros no Brasil - têm raízes comportamentais e institucionais ligadas à formação de nossa sociedade. Nos capítulos finais o autor discute os problemas éticos decorrentes da prática de juros extremamente elevados."

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O tempo na Ciência

Na - Ciência - o tempo é retratado particularmente na Física, quando se torna imperativo sua relação com o espaço, embora também noutros aspectos conforme a área e "objeto" que a ele como tudo, se submetem nas reflexões das diversas e possíveis abordagens. Obras como "Uma breve história do tempo" (2002, Rocco) de Stephen Hawking e "Os gênios da ciência" (2004, Campus) com 5 obras clássicas dos maiores cientistas da história em suas contribuições das quais, o tempo, é matéria básica de teorias revolucionárias como as de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler, Isaac Newton e Albert Einstein (org. pelo mesmo Hawking).
Mas para a ciência da História, onde o mesmo é a matéria prima por excelência e possui uma outra relação com o homem (algo mais mensurável e presente na realidade cotidiana do mesmo) vale conferir também "A história ou a leitura do tempo" (2009, Autêntica) de Roger Chartier e os volumes "Tempo e História" (2002, Cia das Letras) organizado por Adauto Novaes, "O tempo na História" (1993, Jorge Zahar) de G. J. Whitrow e do mesmo autor "O que é o tempo?" (2005, Jorge Zahar). Válido também pensar a partir da inversão dos termos "o tempo na ciência" e "a ciência no tempo", o que certamente nos faz alterar a percepção do próprio, retratando-o nas múltiplas expressões do gênero humano.

O tempo no Cinema

No Cinema - o tempo - é abordado de formas curiosas e das mais inusitadas: a partir do sentido em que os personagens se situam na ordem cronológica e espacial da narrativa de modos diversos, como o nascer velho para morrer infante no recente "O curioso caso de Benjamin Button" (EUA, 2008), das viagens através do tempo em "A máquina do tempo" (EUA, 1960), "Time after time" (EUA, 1979) este, baseado na obra de H. G. Wells, lembrando também de outros como "O planeta dos macacos" (EUA, 1968) e "Exterminador do futuro" (EUA, 1984).
Temos também a clássica trilogia do "De volta para o futuro" (EUA, 1985 com as sequências em 1989 e 1990).
Ocorrem as mesmas viagens em matizes e nuances em contextos como o da memória, onde subjetividade e realidade se confundem como em "Tempo de despertar" (EUA, 1990), "Em algum lugar do passado"(EUA, 1980). Importante ressaltar que tais abordagens cinematográficas das viagens no tempo, ocorrem nas múltiplas direções e sentidos cronológicos, isto é, do futuro para o passado sem "passar pelo presente" - que então é o momento agora do personagem - podendo ser do presente para o passado, presente para o futuro ou de ambos para o presente. Mas sempre em algum lugar no tempo e claro, espaço.

O tempo na Música

Na Música - o tempo - certamente é dos temas mais recorrentes, além de sempre inspiração para letras e canções, considerando que a própria estrutura da mesma por cronometrada (no ritmo/compasso) lhes reserva inestimável valor, à parte as nuances e particularidades conforme gênero e estilo, instrumento e gosto. Dos muitos estilos e gêneros, músicos e grupos, em particular no gênero do pop-rock nacional, lembrei-me de Cazuza (1958-1990) com "O tempo não pára" (1988) e, mais particularmente pela preferência, "Tempo perdido" do álbum "Dois" (1984-86) da Legião Urbana. Esta, considerada um dos "hinos" da geração dos anos 80.

O tempo na Filosofia

Na Filosofia o - tempo - é objeto de ampla reflexão nos variados aspectos e escolas que, desde a Antigüidade, ocuparam-se das reflexões como os diversos filósofos em todos os períodos do tempo. Se na Antiguidade boa parte dos Pré-socráticos, passando Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (384-322 a. C.) fizeram dele constantes investigações, na Idade Média Santo Agostinho (354-430) foi dos mais significativos que o pensaram, tendo dedicado todo o livro XI com 31 itens das suas "Confissões" (397/398) a ele, onde se destacam "O tempo não pode medir a eternidade" (11), "O que é o tempo?" (14), "As três divisões do tempo" (15) e "Pode-se medir o tempo" (16). Na "Summa Theológica" (1272) de Tomás de Aquino (1225-1274) também é retratado com relevância ora mais, ora menos central, mas sempre presente assim como outras importantes questões do período, variando no tempo, mas nunca fora dele. Na história da filosofia é imprescindível a contribuição de Immanuel Kant (1724-1804) e de sua "Crítica da razão pura" (1781) entre outros pensadores. Mais adiante o tempo, é retratado em seus aspectos mais específicos como na idéia de - duração - em Henri Bergson (1859-1941) vide "Duração e simultaneidade" (1922). Na contemporaneidade, a obra filosófica considerada a mais importante do século XX é "Ser e tempo" (1927) do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976). Nela com particular destaque a partir do título, onde a dimensão temporal é a própria e a mesma constitutiva do ser, que o é e se torna no mesmo tempo na diversa temporalidade que compõe a história humana entre a cultura que ela cria (e o tempo em suas formas múltiplas com os relógios, calendários, cronômetros, etc) e, a natureza onde foi criada (com a eternidade).

O tempo na Literatura

Na Literatura - o tempo - é não só destaque como base para muitos dos grandes clássicos da literatura universal como "Em busca do tempo perdido" (1913-1927) de Marcel Proust (1871-1922) e "O tempo e o vento" (1949-1962) de Érico Veríssimo (1905-1975). Destaco também a presença do mesmo no Antigo Testamento da Torá judaica e Bíblia cristã, "Crônicas", gênero aliás por excelência na referência direta ao próprio radical que confere a ele e ao tempo, origem etimológica comum. Mas certamente existem muitas outras obras que retratam o tempo como tema central, ainda que "sob a pele" de muitos e insuspeitos personagens que ele envelhece, torna célebre inovidável, mata anonimamente ou eterniza no permanente presente.

domingo, 13 de setembro de 2009

"Cultura - um conceito antropológico" de Roque de Barros Laraia

A obra a ser debatida no próximo mês de outubro será: "Cultura - um conceito antropológico" (2008, Jorge Zahar, 120 pgs) do antropólogo, o Profº da UnB, Roque de Barros Laraia.
Abaixo a sinopse da obra muito utilizada nas faculdades brasileiras, com linguagem simples e acessível, abordando parte dos conceitos fundamentais da antropologia social e das principais escolas e noções desta área cada vez mais fundamental.

"Uma introdução ao conceito antropológico de cultura, realizada de forma didática, clara e simples. A primeira parte do livro refere-se ao conceito de cultura a partir das manifestações iluministas até os autores modernos, enquanto a segunda procura demonstrar como a cultura influencia o comportamento social e diversifica enormemente a humanidade, apesar de sua comprovada unidade biológica. O autor procura utilizar, sempre que possível, exemplos referentes à nossa sociedade e às sociedades tribais que compartilham nosso território, o que não impede a utilização de exemplos de autores que trabalham em outras partes do mundo."

Roque de Barros Laraia
O autor da obra deste mês "Cultura - um conceito antropológico", Roque de Barros Laraia, é professor emérito da UnB. Iniciou sua carreira, como antropólogo, no Museu Nacional da UFRJ. Em 1969 transferiu-se para a UnB, onde dirigiu o Instituto de Ciências Humanas, sendo promovido a professor titular em 1982. Doutor pela USP, membro de associações científicas do país e do exterior, presidiu a Associação Brasileira de Antropologia (1990-92) e foi eleito presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) em 2000. Integrou a primeira comissão coordenadora do Pronex e os comitês de assessores do CNPq e da Capes. É também organizador da coletânea Organização Social (1969) e tem vários artigos publicados em revistas especializadas.

Para o Currículo Lattes do Professor e Pesquisador acesse:

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Breve consideração sobre o tempo"

Em seu livro As confissões, Santo Agostinho indaga: “Que é, pois, o tempo?” (2004: 322) Logo, em seguida, o filósofo reflete: “Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei” (IDEM). A partir dessa proposição, Santo Agostinho nos remete também à instância do sagrado, ou seja, o tempo pode ser questionado, mas é ao mesmo tempo inefável, e apenas no plano do sagrado ele pode ser mais avivado, à medida que acolhe e alimenta aquele que pode sonhá-lo. Santo Agostinho se permite reconhecer sem receio de contestação que, se nada sobrevivesse, não haveria tempo futuro, e se o agora não existisse, o passado também não teria existido. Sendo assim, o passado e o futuro se tornam tão-somente uma referência em relação ao agora, que, por sua vez, é incessantemente desdobrado no antes e no depois, e sempre inexorável. Portanto, como explicar e apreender apenas racionalmente um conceito para esta questão: O que é, pois, o tempo?
Ao examinarmos a problemática relativa ao tempo, parece-nos que estamos diante do inapreensível. Então, por que levantar tal questão? Bastaria que nos contentássemos com os relógios. Não são estes os medidores do tempo? Todavia, há muito tempo o homem descobriu que, se os relógios lhe permitem medir alguma coisa, não é certamente o “tempo invisível”, este imensurável silêncio que nos toma inelutavelmente as vontades. Nesse sentido, é pela subjetividade que podemos ousar o alcance do tempo, e diríamos, poeticamente, torná-lo maior do que toda a eternidade.
Portanto, não é por menos que o mito do eterno retorno se propõe a narrar as origens e o desenrolar dos eventos. Basta considerarmos o verbo narrar em sua etimologia e logo estaremos diante do vocábulo grego katá, que é ponto de partida, idéia de ir a determinada direção, conforme a; egémai – conduzir, julgar, comandar como chefe; ou seja, vemo-nos diante de um verbo que é problemático por natureza, pois quem narra, recorda-se interpretando e interpreta recordando-se, o que significa que o aprendizado no plano do mito se faz com outra sensibilidade toda vez que é retomado.
A partir disso, e levando-se em conta que o mito faz referência a um lugar faltante, cabe-nos reconhecer que o tempo, enquanto discurso, é sempre uma nova elaboração de discursos identitários, cuja reflexão deve conduzir cada um à visitação ao que ficou não somente como fato ou um depósito de enunciados mortos, mas também como representação para novos enfrentamentos de seu tempo.
Por Paulo Tostes