quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cartas de Amor

“Ignoro porque te escrevo [...]”
Publicadas em sua tradução francesa em 1669, as Cartas de Amor de Mariana Alcoforado são, supostamente, de uma freira portuguesa que se dirige a um oficial francês. Aliás, eis aí uma questão a mais: ser ou não ser? As cartas são de fato a expressão sentimental de uma freira?
Em meio a divagações e controvérsias, até mesmo a visão pouco ortodoxa de Rousseau, ao menos para os dias de hoje, ao dizer que “uma mulher não seria apta a escrever tão bem assim”, o que importa é a experiência estética que agrada a “gregos e troianos”.
E prova disso é que o Museu de Beja – Portugal, ainda conserva a grande janela gradeada, mais conhecida como a Janela de Mértola, das Portas de Mértola ou de Mariana, verdadeiro ex-libris do convento, através da qual a religiosa viu tantas vezes passar o oficial De Chamilly. E que a marcou tão profundamente com o seu olhar, quiçá, pelo ardor da paixão expresso nas cartas, marcou-a também no corpo inteiro...
Assim, nas cartas transparece o amor incondicional e exacerbado da jovem Mariana, que diz sofrer horrores com a distância do amado. Aos poucos as cartas, em número de cinco, vão apontando o fim de qualquer esperança numa união, já que não havia mais nenhuma correspondência do amado... Enfim, toda paixão da freira é traduzida numa linguagem densa e intensa, típica do estilo barroco, como já sugere a frase "ignoro porque te escrevo"... E que bem poderia transformá-la numa autora romântica...
Mas, se “o amor é melhor experimentá-lo do que julgá-lo”, como aponta Camões no Canto X d’ Os Lusíadas, as cartas, inclusive as de Mariana, sugerem mesmo que a ficção é melhor saboreá-la do que julgá-la.
Por Paulo Machado

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