domingo, 15 de abril de 2007

CD de tradição oral


CD - Histórias contadas sobre o tempo.

Experiência é a palavra que traduz o fascínio dessas “Histórias Contadas: sobre o tempo”. Que prazer ouvir esses personagens que “se contam” com a propriedade de quem domina o vocabulário de sua cultura. No contato com os densos mundos sociais a que somos conduzidos através do enredo de cada narrador, percebemos as marcas da vida coletiva — interações familiares, espaços de lazer, a ambiência do trabalho... E o coração se enche de humanidade: somos todos, parte de um mundo que nos engloba! Assim, também recebemos lições com essas Histórias, pois ao ser compartilhada, a experiência necessariamente nos interpela e instrui. Já no primeiro depoimento, o senhor Ernesto ensina que “resgatar um pouco de passado é muito bom” para o presente e o futuro. É o velho narrador querendo transmitir seu conselho. E o que nos dizem? Revendo suas vivências, os depoentes falam de si, inscrevendo-se no tempo e recolhendo de seu fluxo, imagens que mostrem quem são: portadores de uma memória profunda, gente feita de destino e transcendência: “desde criança”, “toda a vida”, “desde pequenininha.” Nas marcas do pertencimento temporal, registram seu olhar sobre as mudanças do mundo, como quem se sabe um narrador privilegiado. “Você conhece cupim?”, pergunta o senhor João Batista, falando do tempo em que as gerações pactuavam respeito e solidariedade no aprendizado dos costumes. O senhor Antônio lembra do tempo em que se sonhava em ser caipira... Esses textos falam, então, do passado revisitado pelos olhos dos velhos e velhas que conosco habitam o contemporâneo. E nessa medida, falam do presente: o que esse tempo fez com os sonhos, valores e promessas que são parte da experiência passada? Generoso, o senhor Antônio, no depoimento final, nos sugere uma resposta, lançando seu desafio: “eu contei uma, agora se você quiser me devolver, conta quatro”. O velho cantador nos convida à reciprocidade. Sabe que é essa a via para que sua voz possa voltar a circular no presente, inspirando suas tramas e sugerindo seus projetos de futuro.


Josimara Delgado

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